Confesso que o título é um tanto pretensioso, afinal, para conhecer Adísia eu necessitaria de muito mais do que os poucos minutos que estive com ela. Foi um encontro rápido, meio despretensioso, mas que valeu muito a pena. Ela estava em visita à empresa em que trabalho, daí tive a oportunidade de trocar algumas palavras com ela. Foi o suficiente para tornar-me ainda mais fã dessa pessoinha formidável. Estudante de jornalismo que sou, o sentimento que me invadiu foi o de um filho que, depois de muitos anos, conhece a mãe que o gerou. Aliás, Adísia, ou melhor dizendo, a Professora Adísia Sá, como prefere ser chamada, é, de certo modo, uma mãezona de toda essa geração de jornalistas cearenses os quais ela precedeu em seus mais de cinqüenta anos de profissão, sendo a responsável pela implantação do primeiro curso de jornalismo no ceará. Essa senhora de 79 anos está longe de se aposentar. Discorre sobre os mais diversos assuntos ao mesmo tempo sem perder a linha de raciocínio. Falou sobre política, trabalho, amigos, família. Eu estava do lado. Só observando e aprendendo. Sobre os amigos ela disse que os considera muito importantes, mas que a família é algo imprescindível. Dentre os muitos outros assuntos que abordou, falou um pouco sobre o seu último livro, motivo de estar ali, pois levava alguns exemplares para o proprietário da empresa, que os havia encomendado. O livro, intitulado: “Capitu conta Capitu”, já está em sua segunda edição e tem exatamente a função de dar voz à personagem de Machado de Assis que é acusada de trair o marido, o ex-seminarista Bentinho, no clássico da literatura brasileira “Dom Casmurro”. Os machadianos se dividem quanto à suposta traição que originou a obra de Adísia Sá (uma espécie de resposta de Capitu às afrontas de Bentinho). Alguns afirmam que Capitu não enganou o marido, enquanto outros não têm dúvida da traição. Mas o livro de Adísia, ao contrário do que alguns podem pensar, não é uma carta de defesa, e sim um grito de liberdade. Na obra, Capitu não procura se justificar, mas assumir o seu diretor de “viver e não ter a vergonha de ser feliz”, como diz a letra da canção. Ansioso por conhecer a opinião de Adísia sobre esse livro que já rendeu filmes, minisséries e novelas globais, apressei-me em reler Dom Casmurro e, na seqüência, de um sorvo só, a resposta de Capitu. Confesso que fiquei um pouco chocado no início, talvez porque esperava uma justificativa de Capitu e não uma confissão. Contudo, achei fantástica a forma como a autora expõe a trama, dando voz a heroína “muda” e desmistificando falsos pudores. Por fim, recomendo a leitura do livro, que pode ser perfeitamente compreendida mesmo por quem ainda não leu o clássico machadiano.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
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