Quando estava em cartaz o filme “Boa Noite e Boa Sorte”, ouvi uma crítica a respeito do mesmo que desestimularia qualquer pessoa desavisada a assisti-lo. Em um jornal local, vi uma pequena nota que dizia que o filme tendia a não fazer sucesso por aqui, pois tratava de um assunto focado em um universo bem diferente do cotidiano de nós brasileiros. Era mais um episódio isolado que acontecera nos EUA na década de 50.
O fato é que, naquela época, já pensando como jornalista, decidi não acreditar em tudo o que lia por aí, e fui conferir de perto se realmente era verdade que o filme não valia a pena. De besta o filme não tinha nada, eu é que fiquei besta com um comentário descabido como aquele. É verdade que o filme se reporta a um episódio de censura interna vivido pelos EUA, mas ao analisar o todo, não tem como não enxergar uma verdadeira aula de jornalismo.
Acredito que se alguém quer seguir carreira de jornalista e está em dúvida, deveria assistir ao filme, não para se convencer a abraçar a profissão, mas também para desistir, se for o caso. O filme é uma realidade do cotidiano em uma redação, que não precisa ser necessariamente americana. A lição, que deve ser aprendida por americanos, brasileiros e todos os profissionais da área, independente de nacionalidade, é que um jornalista de verdade tem que cumprir seu dever de reportar com o máximo de veracidade possível os acontecimentos.
Nas redações brasileiras também estamos sujeitos a enfrentar censuras. E não apenas uma censura externa, como fez o senador McCarthy com Edward Murrow, mas também interna, ou seja, jornalistas censurando jornalistas. Parece uma piada, mas a verdade é que não há graça nenhuma em se escrever um texto, na maioria das vezes denunciativo, e o ver barrado porque “o jornal” não quer ofender essa ou aquela pessoa. Temos exemplos de pessoas bem próximas a nós que relatam esse tipo de censura. É um patrocinador que não pode ficar descontente, um político influente que não quer ver o filho nas páginas policiais ou um empresário que pensa que pode comprar tudo o que quiser.
E o que fazer? Deixar a profissão? Definitivamente, não! Ainda dá pra fazer jornalismo com responsabilidade, primando pela veracidade dos fatos e respeitando o leitor. Como acontece no filme, em determinado momento é necessário peitar alguém de frente, mas em outros casos também podemos tomar atalhos. E que atalhos seriam estes? Um texto mais elaborado. Com palavras escolhidas e informações bem apuradas. Fotos discretas, mas que mostre a realidade dos fatos, enfim, um jornalismo eficiente, sem mutilações que prejudiquem o leitor e que procura passar uma boa exposição das informações.
O jornalismo hoje, infelizmente, ainda é visto como uma profissão de “status” para uns e “pau-mandado” para outros. O que devemos fazer é levantar questões, a partir da academia, sobre a importância do jornalismo não como dono da verdade, mas como um meio onde se é possível, inclusive, discordar da verdade. Somente assim poderemos vivenciar uma profissão com ares da tão sonhada liberdade que muitos jornalistas sonham ter.
Sabemos que é difícil conquistar essa liberdade, até porque a mídia é mantida por anunciantes que invariavelmente viram notícia, e nem sempre boa notícia. Mas é como frisa Morrow em seu discurso final, onde ele afirma, no momento em que está recebendo uma homenagem, que o real papel da TV na formação da sociedade não deve restringir-se a ser uma caixa de luz e fios para emburrecer e desviar a atenção das pessoas, e sim um instrumento para fazê-las pensar.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
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